quinta-feira, 21 de junho de 2012

O Cavalo de Turim

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Toda a obra de Tarr é caracterizada pela ideia do caos, do Homem sozinho entregue a uma natureza em fúria e uma ordem social aparentemente inexistente. Este "O Cavalo de Turim" é o mais bruto dos filmes de Tarr e talvez ao mesmo tempo o mais poético. "Pai, que escuridão é esta?" - é o Fim. O filme de final de carreira sobre a inevitabilidade da extinção da existência humana.

domingo, 29 de abril de 2012

Primeiros dias














Nestes primeiros dias de Indie Lisboa 2012, o destaque das sessões de curtas cai na estreia na realização de João Rui Guerra da Mata, depois de inúmeras colaborações, inclusive a co-realizar, com João Pedro Rodrigues.
Situamo-nos no incêndio do Chiado de 1988 e, ao mesmo tempo que a cidade arde, uma longa conversa telefónica antecipa o fim de uma relação. Formalmente pleno de sobreposição e justaposição de realidades, contrapondo o interior do quarto, real, com os diversos exteriores, distantes, manifestando-se apenas através da televisão e da(s) janela(s).
Embora pese de quando em vez a sobrecarga de referências de época - e mais naif do que o excesso de referências visuais pode ser o excesso das referências verbais -, toda a conversa ao telefone e evidentemente todo o filme é uma dedicatória pessoal. Lisboa arde e aquele amor também. Com tanta força que se destrói. Mas o que arde cura.
Afinal há João Rui para além de João Pedro. Aguardam-se mais projectos.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Água e Sal


"Água e Sal" é a quarta longa-metragem de Teresa Villaverde e é interessante verificar que os temas tratados em praticamente todos os seus filmes, assim como o tipo de personagens, fazem parte de um universo muito próprio que se tem mantido coerente e fiel a si mesmo ao longo destes últimos 20 anos.
Na filmografia da realizadora as personagens denotam fragilidades evidentes e uma busca por um caminho que as leve a um estado desconhecido de calma, ou até mesmo de esperança - um estado que as faça ultrapassar o seu desespero e crença de que é tão difícil viver o presente, tal como ele é.
Neste filme em particular e nesta belíssima cena, como tantas outras ao longo do mesmo, a protagonista está precisamente prestes a atingir um novo estado espiritual, de crença de que as coisas podem melhorar, embora subsista ainda a dúvida de que a vida corre invariavelmente mal, e que ser adulto, casar e ter filhos, é difícil. A protagonista refugia-se no seu trabalho, na fotografia. Após terminar determinada peça passa as fotografias em slide, distraindo-se em voz off com as suas cartas de amor, ódio, ou simplesmente diários pessoais. É muito importante para ela ter aquele espaço só seu, um refúgio das coisas complicadas que existem lá fora. Parece conhecer melhor aqueles rostos aleatórios do que aqueles que a rodeiam. Ainda que ao longo do filme ela conheça várias pessoas novas, e inclusivamente as ajude a ultrapassar os seus problemas, não deixando que a ajudem a si.
A certa altura neste filme alguém diz "tens sempre esta porta aberta", e pode-se dizer que o cinema de Teresa Villaverde é sobre portas que se fecham e se abrem. Escolhas difícieis que se tomam que permitem ou não a chegada ao novo estado pretendido. O desfecho não é importante, mesmo que estas personagens não consigam ultrapassar estas dificuldades. Porque viver para as personagens de Villaverde é mesmo assim, difícil, e estas personagens apesar de muito frágeis não são fracas, de todo. Perto do final deste filme ouve-se a frase "hoje 'tás igual a quando nos conhecemos", muitos anos depois. Talvez estas personagens sejam mesmo isso. Não lhes é possível mudar. A sua fragilidade natural é o seu refúgio.

*Texto publicado no blog Cine Resort, a convite do João Palhares.

sábado, 6 de agosto de 2011

Fora de jogo

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Este Offside de Jafar Panahi é engraçado. Uma crítica explícita ao Irão mascarada em tons de glorificação da nação. Nem com aqueles cânticos no final de amor à pátria o realizador iraniano viu-se livre da censura.

domingo, 31 de julho de 2011

Climas

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Um dos pontos de análise do cinema do realizador turco Nuri Bilge Ceylan é a incomunicabilidade. Se no post anterior falava-se da incomunicabilidade em A Swedish Love Story quase como consequência do meio geográfico em que se insere, aqui é o meio "climático" que parece determinar o rumo dos sentimentos na relação. No entanto Ceylan subverte em parte a lógica e opta pela ruptura inicial em pleno Verão, deixando para o Inverno seguinte o arrependimento e a vontade de recomeçar, ainda que se venha a revelar fortuita.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

A Swedish Love Story

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1970 marcou a estreia do realizador sueco Roy Andersson nas longas-metragens, com A Swedish Love Story. Desde então até ao presente Andersson realizou apenas mais 3 filmes, aproximando-se gradualmente de uma espécie de narrativa burlesca, dizem alguns algo felliniana.
No entanto o seu filme de estreia está longe desse registo, pelo menos num primeiro olhar, ou à superfície. Trata sobretudo de uma história de amor entre dois adolescentes que se vêem rodeados de toda uma descrença no que a relações afectuosas diz respeito. Seja logo no início o avô de um deles queixar-se da solidão e da infelicidade que a certa altura, e invariavelmente, atinge os idosos; seja na depressão profunda que se encontra a mãe da jovem rapariga motivada por um casamento falhado; seja até pela sua irmã mais velha, já adulta, que se queixa da solidão e da vida. São portanto três gerações diferentes que, inconscientemente, poucas perspectivas trazem ao jovem casal. Todos eles parecem fazer crer que crescer é uma causa da infelicidade, ou esta a consequência. Isto tudo sob uma frieza característica no tipo de relações nórdicas, se quisermos envoltas numa espécie de incomunicabilidade. É precisamente desta forma que a relação do jovem casal floresce, praticamente sem palavras. Um encosto apenas é o suficiente para qualquer um deles expressar o que sente, naquela Suécia aparentemente apática e condenada.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Paris, Texas

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He thought if she never got jealous of him that she didn't really care about him. Jealousy was a sign of her love for him, and then one night, one night she told him that she was pregnant, she was about three or four months pregnant and he didn't even know and then suddenly everything changed, he stopped drinking, he got a steady job, he was convinced that she loved him now that she was carrying his child and he was going to dedicate himself to making a home for her. But a funny thing started to happen, he didn't even notice it at first, she started to change. From the day the baby was born, she began to get irritated with everything around her. She got mad at everything. Even the baby seemed to be an injustice to her. He kept trying to make everything all right for her. Buy her things. Take her out to dinner once a week. But nothing seemed to satisfy her. For two years he struggled to pull them back together like they were when they first met, but finally he knew that it was never going to work out. So he hit the bottle again. But this time it got... mean. This time, when he came home late at night, drunk, she wasn't worried about him, or jealous, she was just enraged. She accused him of holding her captive by making her have a baby. She told him that she dreamed about escaping. That was all she dreamed about: escape. She saw herself at night running naked down a highway, running across fields, running down riverbeds, always running. And always, just when she was about to get away, he'd be there. He would stop her somehow. He would just appear and stop her. And when she told him these dreams, he believed them. He knew she had to be stopped or she'd leave him forever. So he tied a cow bell to her ankle so he could hear her at night if she tried to get out of bed. But she learned how to muffle the bell by stuffing a sock into it, and inching her way out of the bed and into the night. He caught her one night when the sock fell out and he heard her trying to run to the highway. He caught her and dragged her back to the trailer, and tied her to the stove with his belt. He just left her there and went back to bed and lay there listening to her scream. And he listened to his son scream, and he was surprised at himself because he didn't feel anything anymore. All he wanted to do was... sleep. And for the first time, he wished he were far away. Lost in a deep, vast country where nobody knew him. Somewhere without language, or streets. He dreamed about this place without knowing its name. And when he woke up, he was on fire. There were blue flames burning the sheets of his bed. He ran through the flames toward the only two people he loved... but they were gone. His arms were burning, and he threw himself outside and rolled on the wet ground. Then he ran. He never looked back at the fire. He just ran. He ran until the sun came up and he couldn't run any further. And when the sun went down, he ran again. For five days he ran like this until every sign of man had disappeared.

terça-feira, 12 de julho de 2011

Night and the City

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As cenas finais de Night and the City de Jules Dassin são particularmente interessantes tendo em conta o comportamento do protagonista ao longo do filme. Ascensão e queda de um small time crook, sem no entanto ter havido efectivamente qualquer tipo de ascensão, ou até de queda, diga-se. É o próprio que o confirma nas derradeiras cenas. Esteve tão perto de tudo, mas por pequenos detalhes deitou tudo a perder. Frases a mais, e demais, talvez. Pequenos erros quando tudo parecia correr bem. Uma vez mais Dassin opta pela rendição moral dos seus protagonistas. Não é que se arrependam das suas acções, mas em estado de desespero estas personagens sentem necessidade de qualquer tipo de libertação espiritual, algo que absolva todas as suas más decisões antes da ruptura. O final, esse, é mais uma brutalidade de eventos a que Dassin já nos habituou. Há atitudes que têm de ser tomadas independentemente das consequências. As consequências, essas, já se conhecem, mas as acções que as antecedem são o que dão particular gozo. Kind of the stuff that dreams are made of.

sábado, 9 de julho de 2011

Guerra Civil

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A primeira longa-metragem de Pedro Caldas parece gerar já uma espécie de culto dadas as complicações nas licenças da banda sonora que prolongam há quase dois anos a sua estreia comercial. Depois da sua estreia nacional no Indie Lisboa de 2010 e consequente prémio de melhor longa-metragem portuguesa, Guerra Civil teve há poucos dias a sua segunda aparição em salas portuguesas, desta feita na Cinemateca Portuguesa, provavelmente com uma das maiores enchentes dos últimos anos.
É uma pena o filme não ter chegado ainda às salas (irá algum dia chegar?), já que é das coisas mais interessantes dos anos 2000.

A incomunicabilidade como ponto de partida e a solidão como consequência têm sido temas recorrentes num ou outro filme mais recente mas Pedro Caldas situa-nos numa época particular, o Verão de 1982. Guerra Civil no Líbano. Metáfora evidente para a família neste filme. O filho praticamente autista refugia-se na música e a mãe vê-se cada vez mais desamparada num estado social em que o marido, omnipresente, manifesta-se apenas via telefone até perto do fim do filme. Omnipresência essa fundamental para o agravar de um fosso entre os laços familiares e a descoberta de um novo consolo. Quer para a mãe, quer para o filho. Alternativas a meio caminho que a incomunicabilidade nos oferece antes das consequências. Disorder, lembra-nos Pedro Caldas. Uma época em que a comunicação ainda passava pelo contacto físico, não estando condenada aos telemóveis e à internet. As alternativas eram portanto físicas, irreversíveis. As consequências idem. Os desgostos amorosos eram reais. Nunca foram aliás tão reais. I've got the spirit, but lose the feeling.

Seja em estreia comercial sejam em sessões marginais e clandestinas, Guerra Civil deve ser visto quantas vezes forem necessárias para se alimentar uma certa dose de realidade que se tende a perder.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Sobre os mavericks

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A carreira de Dennis Hopper enquanto realizador sempre foi algo obscura após o sucesso de Easy Rider, no entanto há um filme que deve ser destacado que surge na viragem para os anos 80 e consequente queda dos mavericks, de seu nome Out of the Blue. Neste filme Hopper aprofunda os laços que se vão quebrando entre família e a revolta que daí advém. O porquê das coisas com o tempo se alterarem, contra a nossa vontade. O ódio inconsciente que cresce numa série de relações, mesmo nós não querendo que tal aconteça. Face à frieza do meio (o meio pesado de Hopper), a desilusão e a mágoa são inevitáveis. Este é um filme especial. Os problemas são reais, assim como as personagens. São pessoas reais. E Dennis Hopper sempre foi verdadeiro. Neste filme as homenagens aos seus heróis são várias, principalmente a Neil Young e Elvis. Pois também o próprio Hopper foi um ícone. O maverick que abanou Hollywood.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

My brother thinks he's a chicken

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Vêr pela primeira vez Who's Afraid of Virginia Woolf? no cinema pode ter o mesmo impacto que vêr qualquer Cassavetes, também no cinema. Aliás, e curiosamente, este filme que antecede a New Hollywood lembra de certa forma Faces, que estreou dois anos depois, em 1968. Para além de vários aspectos de imagem, em ambos os filmes trata-se de forma crua o desabar de um casamento num curto espaço de tempo. O ódio e a ironia, que sempre tiveram presentes, agudizam-se de tal forma que é inevitável a chegada a um ponto aparentemente nunca antes chegado, a ruptura. Ruptura essa indispensável e necessária para um novo começo e uma nova tentativa, afinal de contas, e apesar de toda a irracionalidade e absurdo das relações, most of us need the eggs.

sábado, 18 de junho de 2011

Últimas

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13 anos depois do seu último filme, The Last Days of Disco, Whit Stillman vai voltar à realização. Não é certo ainda se será já este ano ou em 2012, mas será com certeza um dos regressos mais aguardados dos últimos anos. Para quem não reconhece importância no feito, digamos que o impacto seria o mesmo se Tarantino não tivesse levado a cabo mais nenhum projecto desde Jackie Brown. Tarantino que tem, por sua vez, data de estreia marcada para o seu próximo filme, Django Unchained, em Dezembro de 2012.

Para terminar, e ficando tudo em família, destaque-se também o regresso de Peter Bogdanovich, ainda sem data definida, com Squirrel to the Nuts, produzido por Wes Anderson e Noah Baumbach. Como complemento à notícia segue ainda uma interessante conversa entre Wes Anderson e Bogdanovich, a propósito de They All Laughed.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Nobody ever really escapes

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As premissas de Jules Dassin neste poderoso Brute Force não andarão muito longe da extorsão, força, violência e fuga. Aliás, praticamente toda a obra de Dassin anda em torno destes temas. Personagens enclausurados nas suas próprias prisões, onde apenas o dinheiro e o poder as move. Neste filme essas prisões são, efectivamente, as celas de uma prisão. Planeia-se a fuga em grupo mas o meio é implacável.

Quase se pode fazer um paralelismo anos mais tarde com Le Trou, de Jacques Becker. No entanto, enquanto que num a fuga assemelha-se para o protagonista mais como uma libertação de espírito (pese ainda assim a violência brutal das derradeiras cenas), em Becker esta materializa-se na fraqueza da experiência em prol da extorsão. Representa a certeza de que escolhido esse caminho, acarretam-se os riscos e nada se poderá fazer dali em diante.
Em ambos os casos é mostrado ao espectador o vazio e a frieza que pairam nos corredores das prisões no fim de cada tentativa de fuga. Não com uma conotação moralista, afinal estamos a falar de Becker e Dassin, mas como alerta precisamente para o terror que será a vida daqueles que ousaram escapar.

Uma coisa é certa: em ambos os casos é proposta uma alternativa à máxima the only winning move is not to play. Não tentando a fuga, quase todos sairão da prisão, ainda que muitos anos mais tarde. Ainda assim, entrando no jogo, ou se ganha ou se perde, para sempre, para os dois lados.

sábado, 4 de junho de 2011

Xadrez

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Em Night Moves, de Arthur Penn, o protagonista Gene Hackman, que apanhou horas antes a sua mulher a traí-lo, está sentado a ver um jogo de futebol americano. A mulher chega a casa sem saber de nada e pergunta-lhe sobre o jogo: quem está a ganhar? Ao que ele responde: ninguém, uma equipa está a perder mais lentamente do que a outra. Não é tão trágico como aquilo que o outro disse nos anos 80: the only winning move is not to play, ainda assim não deixa de ter o seu encanto. Enquanto que uma das frases pressupõe uma apatia e descrença natural já que só no início se poderia ter tomado uma decisão, a outra remete-nos para uma existência que adia aos poucos o erro, ou a perda. Seja em que jogo fôr.

domingo, 29 de maio de 2011

Winter Lady



Traveling lady, stay awhile
until the night is over.
I'm just a station on your way,
I know I'm not your lover.

Well I lived with a child of snow
when I was a soldier,
and I fought every man for her
until the nights grew colder.

She used to wear her hair like you
except when she was sleeping,
and then she'd weave it on a loom
of smoke and gold and breathing.

And why are you so quiet now
standing there in the doorway?
You chose your journey long before
you came upon this highway.

Traveling lady stay awhile
until the night is over.
I'm just a station on your way,
I know I'm not your lover.

A child of snow

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Há sempre uma magia especial quando se revê McCabe and Mrs. Miller. De entre os grandes filmes de Robert Altman, este está muito perto de ser a sua magnum opus. É certo que quando se fala de Robert Altman é sempre muito complicado falar dos melhores filmes, ou do opus entre os melhores, já que é possível que seja dos poucos americanos que se possa gabar de ter 8-10 obras-primas em 30 e poucos filmes. Ainda assim este seu Western (ou anti-Western, como o apelidou) é de uma frieza cortante e, ao mesmo tempo, uma dedicatória terna sobre o que será o amor, a perda e o arrependimento. Nas derradeiras cenas finais, ouve-se Leonard Cohen. Traveling lady, stay awhile/ until the night is over/ I'm just a station on your way/ I know I'm not your lover. Parcialidades à parte, haverá final mais belo na história do cinema?

domingo, 22 de maio de 2011

Greetings

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Um filme curioso de Brian De Palma, que tem como sequela o não menos peculiar Hi, Mom!, onde Robert De Niro reencarna na mesma personagem.
À semelhança de tantos outros filmes do final dos anos 60 (e até princípios de 70), este Greetings define o estado de paranóia e alerta da sociedade norte-americana no pós-assassinato de JFK e durante a Guerra do Vietname. Depois de uma breve homenagem a Antonioni (e ao seu Blow-Up), De Palma mergulha no espírito de uma sociedade de controlo e através do bizarro começa a aprofundar já aqui o voyeurismo como uma das grandes temáticas da sua obra.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dos que são bons

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O novo filme dos irmãos Safdie, John's Gone, teve uma passagem discreta pelo Indie Lisboa deste ano. Foi exibido duas vezes mas ambas na sala mais pequena das associadas ao festival, o Teatro de Bairro. Não sei se decisão da direcção do festival foi propositada ou não. Não faria mais sentido a exibição da curta-metragem numa sala maior? Afinal de contas os Safdie foram os vencedores do grande prémio da edição anterior do festival. Os dois irmãos são "O" cinema emergente de Nova Iorque (basta ver um qualquer trabalho seu para perceber porquê) e mereciam melhor tratamento neste certame.

Sobre a curta-metragem em si, é a continuidade do trabalho até agora desenvolvido pelos realizadores. Estórias praticamente circulares, pequenos fragmentos de vida e de realidade sem quaisquer pretensiosismos e manobras manipulativas de "somos bué jovens e fazemos coisas bué cool", como lamentavelmente se viram tantos exemplos este ano no festival. Venha a próxima longa-metragem dos dois irmãos.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Atalho

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É recorrente na curta (mas rica) filmografia de Kelly Reichardt as personagens andarem em viagem. Seja pelo país fora numa América contemporânea, seja em retiro espiritual ou, no caso deste Meek's Cutoff (O Atalho, em português), numa viagem nómada pelo deserto em pleno final do séc. XIX.
O que ainda é mais curioso nesta filmografia é o facto das estórias pouco ou nada terem em comum entre si mas ainda assim existe um fio condutor que pauta a sua obra, como se fosse possível interligar todos os seus filmes (uma espécie de Cronenberg).
A grande premissa de Reichardt é a desorientação dos seres humanos inseridos em determinado meio. Desorientação seja ela literal ou figurativa, que atinge neste Meek's Cutoff o seu ponto mais alto, já que se estende sobre as duas formas. As pessoas que fazem esta travessia e o seu guia estão perdidos em pleno deserto e os dias vão passando. A comida e a água escasseiam, assim como as forças. Por outro lado, ganha contornos a desorientação do grupo como um conjunto de pessoas motivadas por um objectivo. Cada um dos personagens no seu interior sente-se ameaçado pelo que quer que seja que está para vir. A confiança do grupo sobre o guia (o "líder") diminui em prol de um índio encontrado no deserto, feito prisioneiro por estes, alegadamente perigoso. O próprio guia já não sabe o que fazer, deixando essa responsabilidade, quase como um capricho, aos restantes, levados a "acreditar" (instintamente, já que este não fala a sua linguagem) naquele "inimigo" que fizeram prisioneiro.
Kelly Reichardt tem sido, portanto, fiel à sua principal premissa e quanto à forma para chegar a ela mantém também o registo de poucos diálogos e um ritmo bastante compassado, que tem feito sempre tão bem.
Muitos sem saber no que pegar colocarão em causa aquele final, fazendo um qualquer trocadilho barato com "atalho", resumindo a escolha da realizadora. Pergunto se haveria melhor forma de terminar este filme. Para esses, deixem-se de merdas. Forte candidato ao filme do ano.

sábado, 14 de maio de 2011

Non Educated DelinquentS

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Outras das surpresas da edição deste ano do Indie Lisboa é Neds, de Peter Mullan.
Tem sido recorrente num passado muito recente aprofundar-se o tema da violência nos bairros do Reino Unido. Há 2 anos estreou This is England e no ano passado Fish Tank. Este ano a acção chega-nos de Glasgow, onde uma vez mais a narrativa centra-se num jovem problemático. Portanto: jovem aparentemente normal que torna-se problemático e violento devido ao meio onde está inserido. A storyline não nos leva propriamente a novos lugares, até porque deste género há muitos (um ou outro bom e outros muito maus), ainda para mais dados os bons exemplos já referidos dos últimos anos. Voltamos às Doc Martens e aos Classic Harringtons. Ainda assim, Peter Mullan consegue focar outros aspectos que os seus precedentes não o fizeram. Mullan diz-nos que o problema destes jovens é o meio onde vivem e que talvez anormal seja não fazerem parte dos gangs, dados os vários factores que condicionam cada um, ou reprimem. As lutas entre os gangs nestas ruas acontecem todos os dias quase como um ritual, um hábito, porque não se faz mais nada nas ruas. Os rapazes querem pertencer aos gangs. No primeiro confronto de gangs com o protagonista já pertencendo ao grupo ouve-se como música de fundo um clássico: heaven, I'm in heaven, and my heart beats so that I can hardly speak, and I seem to find the happiness I seek. As perspectivas dos jovens que crescem nestes bairros são baixas mas Mullan mostra-nos que para além do meio em si e do grupo social família, a escola tem um papel preponderante na (des)inserção social dos alunos, quase forçada inconscientemente, dado o seu conservadorismo e práticas violentas sobre os mesmos. As perspectivas já são baixas num meio que por si impõe-se aos mais frágeis emocionalmente, aos que já encaram os problemas sociais desde cedo como algo normal.
Já não se filmava a rebelia juvenil desta maneira há muitos anos, e aquele plano final e a sua mensagem implícita é das coisas mais interessantes vistas este ano em cinema.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Curling

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O filme mais interessante que até à data passou no Indie Lisboa é o do canadiano Denis Côté. Um pai teme o contacto da sua filha com o mundo exterior e nunca a deixou ir à escola (não, não é a mesma coisa que o pobre e chato Canino, do grego Lanthimos). Se este isolamento assume contornos literais no que à filha diz respeito, já que nunca pode sair de casa (nem está com ninguém) a não ser quando passeia sozinha pela neve nas redondezas da casa, o próprio pai, e apesar de ter relações parcialmente amigáveis (embora apáticas) com os colegas de trabalho, vive fechado sobre si. O pai não quer que a filha seja corrompida pelas coisas más e podres do exterior. Falemos de casos extremos, como o sangue ou a morte. Um, experiente, não quer exposição. Outro, ingénuo, quer conhecer o que está para lá da casa. Ambos, sozinhos e por diferentes motivações, entram em contacto com o mal. Com a morte. As consequências sobre cada um são também elas diferentes.
O estado de tristeza e de tédio do protagonista agudiza-se. É incontornável não nos lembrarmos do Travis de Paris, Texas. A única solução aparentemente possível é a partida. Vou-me embora. Tenho um problema de adulto. Não me sinto bem da cabeça, diz à filha. E parte sozinho.

A certa altura do filme uns conhecidos seus jogam Curling e alguém explica-lhe as regras. O objectivo da primeira pessoa que joga é atirar as pedras de forma a que fiquem à volta do centro do alvo, de forma a que o jogador seguinte não consiga chegar ao centro. A parte central, mais importante do jogo. Tão importante e impenetrável para o pai, que foi o primeiro a jogar e a espalhar à volta os obstáculos. No fim o possível arrependimento e a redenção. A tentativa de mudança (inclusive física) para que lentamente e pacientemente se consigam desviar as pedras à volta do centro.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Carlos

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Já se falou (e bem) sobre o filme. Subscrevo, mas apesar de tudo importa colocar a pergunta: haverá filme mais cool sobre o terrorismo?

terça-feira, 3 de maio de 2011

Éric

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Apesar de vários erros de raccord algo chatos e interpretações duvidosas, este La Carrière de Suzanne é impressionante. Aliás todos os Seis Contos Morais de Éric Rohmer o são, cada um à sua maneira. Em comum têm como fio condutor as relações humanas "contemporâneas", precedendo Woody Allen nesse tipo de abordagem.
Neste segundo conto, perto do final, o protagonista crê ter sido "traído" por uma rapariga e não pelo seu melhor amigo, apesar de tudo indicar o contrário. "Traído" devido a um roubo de dinheiro, e não no sentido sentimental (ou físico, já que o termo "traição" nestes seis contos de Rohmer pode passar por vários estados). Depois do ódio inicial após tê-la conhecido passando pela fixação por ela semanas depois, ele agora tudo faz para que ela lhe seja indiferente. Tenta ele manipular o seu cérebro de forma a pôr um ponto final naquela relação (infantil, como alguém diz). Este acabou por ter o que queria mas de imediato se apercebe de uma Suzanne que nunca viu, ou que nunca quis vêr, e, claro está, já é tarde demais. Rohmer faz quase sempre questão de deixar os seus protagonistas caírem em tragédia sentimental, questionando-os sobre aquilo que poderiam ter tido e o que não souberam gerir, à falta de melhor termo. O que é bom nesse julgamento pessoal é todo o processo mental de cada protagonista (de cada filme) que o antecede, funcionando em certas alturas, de forma perspicaz, quase como um espelho aos olhos do espectador. O espectador quer julgar estes personagens mas ao mesmo tempo é provocado por estes actos imorais. Cruelmente. Sem comédia por cima a fazer de disfarce.

Noah



It's the first day of spring
And my life is starting over again
The trees grow, the river flows
And its water will wash away my sins
For I do believe that everyone has one chance
To fuck up their lives
But like a cut down tree, I will rise again
And I'll be bigger and stronger than ever before

segunda-feira, 2 de maio de 2011

After Life

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Este filme de Hirokazu Koreeda, de 1998, é sobre uma equipa que trabalha numa espécie de purgatório onde os recém-chegados (recém-falecidos?) são entrevistados e, antes de partirem para o infinito, têm direito a escolherem uma e apenas uma memória das suas vidas, sendo que todas as outras serão apagadas. Feita a escolha, a equipa empenha-se então em reproduzir fisicamente esse momento e registam a memória em vídeo. No final da semana todo o grupo de "almas pendentes" vê os filmes e cada um deles leva a sua cassete com essa única memória, para o resto da sua existência.

No meio disto tudo, pergunto-me quantos destes o Michel Gondry e o Charlie Kaufman andaram a ver para terem ideias para os seus filmes "originais" e "super cool".

sábado, 30 de abril de 2011

Ballad of Easy Rider

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É curioso observar Wim Wenders num filme de género, ou subgénero, como neste noir (ou neo-noir) O Amigo Americano. Mais curioso será dizer que facilmente se perceberia de quem seria este filme se não se soubesse o nome do realizador.
É recorrente num ou outro filme de Wenders a frase não se deve ter medo de nada senão do próprio medo, ou uma ligeira variação. No caso do realizador pode-se dizer que o medo que deve ser temido será o da criação desprovida de qualquer emoção, paixão, no fundo descartável, que torne os seus filmes comuns e "realizáveis" por qualquer um.
Mais um belo filme de Wenders com direito a participações especiais em homenagem à sua escola: Nicholas Ray, Samuel Fuller e Jean Eustache.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

The Magnificent Andersons*

























Os novos projectos dos dois realizadores americanos mais interessantes da actualidade parecem ser já oficiais. Por um lado Paul Thomas Anderson vai avançar com a adaptação do livro Inherent Vice, de Thomas Pynchon. Apesar de se ter noticiado que este iria avançar com The Master, filme sobre a Cientologia, tudo indica que é mesmo à adaptação literária que o realizador irá dar prioridade.

Quanto a Wes Anderson, o elenco para o seu próximo filme, Moonrise Kingdom, começa a ficar cada vez maior. Para além dos seus já habituais Bill Murray e Jason Schwartzman, juntam-se ainda as nada estranhas a estes universos Frances McDormand e Tilda Swinton, caindo a curiosidade sobre Bruce Willis e Edward Norton. Dois nomes que não se esperariam num filme do realizador. Mas também há uns anos atrás provavelmente não se esperariam Gene Hackman, Seymour Cassel, Willem Dafoe, ou até mesmo Adrien Brody.

*Perdoem-me o trocadilho barato com o segundo filme do Orson Welles. Até se poderia ir por "The Royal Andersons", puxando mais para o lado do Wes. Afinal, semelhanças entre os dois filmes até existem mais do que aquelas que se esperariam.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Seconds ending

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Ainda sobre Seconds, e após o médico proferir as suas últimas palavras dirigas ao protagonista, you were my best creation, importa tentar perceber aquele último plano. Um homem passeia pela praia com uma criança às cavalitas.
Normalmente diz-se que no leito de morte as coisas mais importantes que se passaram na nossa vida surge-nos na mente como uma cadeia de flashbacks. Mas e no caso de se ter tido uma vida bastante vazia, como o protagonista em questão? Afinal de contas foi por isso que ele concordou em ter uma segunda oportunidade. Em viver outra vez, outra vida. Mas uma vez mais falhou. Terá sido este último plano um desses típicos flashbacks, mas desta feita materializado sob a forma das memórias que nunca tivemos e que gostaríamos de ter?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Estrada para lugar nenhum

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Um exemplo daqueles, à semelhança de tantos outros, em que com o passar dos anos (talvez mais para o final da década), torna-se um filme de culto.

Da vida das marionetas

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No filme de Bergman, durante terapia, fala-se sobre a força das palavras não só de forma geral como também especificamente sobre os desejos mais íntimos de cada um. Se não expressar a minha ansiedade por palavras, ela permanece irreal. Uma vez ditas as palavras, ela torna-se manifesta.

Estabeleça-se então um raccord com o comentário anterior sobre Alice in the Cities. De salientar que esta ordem é a correcta, já que o filme de Wenders, curiosamente, antecede o de Bergman.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Novelty


When people listen to you don't you know it means a lot,
'Cos you've got to work so hard for everything you've got.
Can't rest on your laurels now,
Not when you've got none.
You'll find yourself in a gutter,
Right back where you came from.

Someone told me being in the know is the main thing.
We all need the security that belonging brings.
Can't stand on your own in these times,
Against all the odds,
You all just fall behind like all the other sods.

You slap our backs and pretend you knew about,
All the things that we were gonna do.
What ya gonna do, what ya gonna do,
When it's over?
You're on your own now,
Don't you think that's a shame?
But you're the only one responsible to take the blame.
So what ya gonna do when the novelty has gone?
Yeah, what ya gonna do when the novelty has gone?

You slap our backs,
And pretend you knew about,
All the things we were gonna do.
What ya gonna do, what ya gonna do
When its over?