terça-feira, 10 de maio de 2011

Curling

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O filme mais interessante que até à data passou no Indie Lisboa é o do canadiano Denis Côté. Um pai teme o contacto da sua filha com o mundo exterior e nunca a deixou ir à escola (não, não é a mesma coisa que o pobre e chato Canino, do grego Lanthimos). Se este isolamento assume contornos literais no que à filha diz respeito, já que nunca pode sair de casa (nem está com ninguém) a não ser quando passeia sozinha pela neve nas redondezas da casa, o próprio pai, e apesar de ter relações parcialmente amigáveis (embora apáticas) com os colegas de trabalho, vive fechado sobre si. O pai não quer que a filha seja corrompida pelas coisas más e podres do exterior. Falemos de casos extremos, como o sangue ou a morte. Um, experiente, não quer exposição. Outro, ingénuo, quer conhecer o que está para lá da casa. Ambos, sozinhos e por diferentes motivações, entram em contacto com o mal. Com a morte. As consequências sobre cada um são também elas diferentes.
O estado de tristeza e de tédio do protagonista agudiza-se. É incontornável não nos lembrarmos do Travis de Paris, Texas. A única solução aparentemente possível é a partida. Vou-me embora. Tenho um problema de adulto. Não me sinto bem da cabeça, diz à filha. E parte sozinho.

A certa altura do filme uns conhecidos seus jogam Curling e alguém explica-lhe as regras. O objectivo da primeira pessoa que joga é atirar as pedras de forma a que fiquem à volta do centro do alvo, de forma a que o jogador seguinte não consiga chegar ao centro. A parte central, mais importante do jogo. Tão importante e impenetrável para o pai, que foi o primeiro a jogar e a espalhar à volta os obstáculos. No fim o possível arrependimento e a redenção. A tentativa de mudança (inclusive física) para que lentamente e pacientemente se consigam desviar as pedras à volta do centro.

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