sábado, 9 de julho de 2011

Guerra Civil

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A primeira longa-metragem de Pedro Caldas parece gerar já uma espécie de culto dadas as complicações nas licenças da banda sonora que prolongam há quase dois anos a sua estreia comercial. Depois da sua estreia nacional no Indie Lisboa de 2010 e consequente prémio de melhor longa-metragem portuguesa, Guerra Civil teve há poucos dias a sua segunda aparição em salas portuguesas, desta feita na Cinemateca Portuguesa, provavelmente com uma das maiores enchentes dos últimos anos.
É uma pena o filme não ter chegado ainda às salas (irá algum dia chegar?), já que é das coisas mais interessantes dos anos 2000.

A incomunicabilidade como ponto de partida e a solidão como consequência têm sido temas recorrentes num ou outro filme mais recente mas Pedro Caldas situa-nos numa época particular, o Verão de 1982. Guerra Civil no Líbano. Metáfora evidente para a família neste filme. O filho praticamente autista refugia-se na música e a mãe vê-se cada vez mais desamparada num estado social em que o marido, omnipresente, manifesta-se apenas via telefone até perto do fim do filme. Omnipresência essa fundamental para o agravar de um fosso entre os laços familiares e a descoberta de um novo consolo. Quer para a mãe, quer para o filho. Alternativas a meio caminho que a incomunicabilidade nos oferece antes das consequências. Disorder, lembra-nos Pedro Caldas. Uma época em que a comunicação ainda passava pelo contacto físico, não estando condenada aos telemóveis e à internet. As alternativas eram portanto físicas, irreversíveis. As consequências idem. Os desgostos amorosos eram reais. Nunca foram aliás tão reais. I've got the spirit, but lose the feeling.

Seja em estreia comercial sejam em sessões marginais e clandestinas, Guerra Civil deve ser visto quantas vezes forem necessárias para se alimentar uma certa dose de realidade que se tende a perder.

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