Apesar de vários erros de raccord algo chatos e interpretações duvidosas, este La Carrière de Suzanne é impressionante. Aliás todos os Seis Contos Morais de Éric Rohmer o são, cada um à sua maneira. Em comum têm como fio condutor as relações humanas "contemporâneas", precedendo Woody Allen nesse tipo de abordagem.
Neste segundo conto, perto do final, o protagonista crê ter sido "traído" por uma rapariga e não pelo seu melhor amigo, apesar de tudo indicar o contrário. "Traído" devido a um roubo de dinheiro, e não no sentido sentimental (ou físico, já que o termo "traição" nestes seis contos de Rohmer pode passar por vários estados). Depois do ódio inicial após tê-la conhecido passando pela fixação por ela semanas depois, ele agora tudo faz para que ela lhe seja indiferente. Tenta ele manipular o seu cérebro de forma a pôr um ponto final naquela relação (infantil, como alguém diz). Este acabou por ter o que queria mas de imediato se apercebe de uma Suzanne que nunca viu, ou que nunca quis vêr, e, claro está, já é tarde demais. Rohmer faz quase sempre questão de deixar os seus protagonistas caírem em tragédia sentimental, questionando-os sobre aquilo que poderiam ter tido e o que não souberam gerir, à falta de melhor termo. O que é bom nesse julgamento pessoal é todo o processo mental de cada protagonista (de cada filme) que o antecede, funcionando em certas alturas, de forma perspicaz, quase como um espelho aos olhos do espectador. O espectador quer julgar estes personagens mas ao mesmo tempo é provocado por estes actos imorais. Cruelmente. Sem comédia por cima a fazer de disfarce.
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