quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Água e Sal


"Água e Sal" é a quarta longa-metragem de Teresa Villaverde e é interessante verificar que os temas tratados em praticamente todos os seus filmes, assim como o tipo de personagens, fazem parte de um universo muito próprio que se tem mantido coerente e fiel a si mesmo ao longo destes últimos 20 anos.
Na filmografia da realizadora as personagens denotam fragilidades evidentes e uma busca por um caminho que as leve a um estado desconhecido de calma, ou até mesmo de esperança - um estado que as faça ultrapassar o seu desespero e crença de que é tão difícil viver o presente, tal como ele é.
Neste filme em particular e nesta belíssima cena, como tantas outras ao longo do mesmo, a protagonista está precisamente prestes a atingir um novo estado espiritual, de crença de que as coisas podem melhorar, embora subsista ainda a dúvida de que a vida corre invariavelmente mal, e que ser adulto, casar e ter filhos, é difícil. A protagonista refugia-se no seu trabalho, na fotografia. Após terminar determinada peça passa as fotografias em slide, distraindo-se em voz off com as suas cartas de amor, ódio, ou simplesmente diários pessoais. É muito importante para ela ter aquele espaço só seu, um refúgio das coisas complicadas que existem lá fora. Parece conhecer melhor aqueles rostos aleatórios do que aqueles que a rodeiam. Ainda que ao longo do filme ela conheça várias pessoas novas, e inclusivamente as ajude a ultrapassar os seus problemas, não deixando que a ajudem a si.
A certa altura neste filme alguém diz "tens sempre esta porta aberta", e pode-se dizer que o cinema de Teresa Villaverde é sobre portas que se fecham e se abrem. Escolhas difícieis que se tomam que permitem ou não a chegada ao novo estado pretendido. O desfecho não é importante, mesmo que estas personagens não consigam ultrapassar estas dificuldades. Porque viver para as personagens de Villaverde é mesmo assim, difícil, e estas personagens apesar de muito frágeis não são fracas, de todo. Perto do final deste filme ouve-se a frase "hoje 'tás igual a quando nos conhecemos", muitos anos depois. Talvez estas personagens sejam mesmo isso. Não lhes é possível mudar. A sua fragilidade natural é o seu refúgio.

*Texto publicado no blog Cine Resort, a convite do João Palhares.

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