Um dos pontos de análise do cinema do realizador turco Nuri Bilge Ceylan é a incomunicabilidade. Se no post anterior falava-se da incomunicabilidade em A Swedish Love Story quase como consequência do meio geográfico em que se insere, aqui é o meio "climático" que parece determinar o rumo dos sentimentos na relação. No entanto Ceylan subverte em parte a lógica e opta pela ruptura inicial em pleno Verão, deixando para o Inverno seguinte o arrependimento e a vontade de recomeçar, ainda que se venha a revelar fortuita.
domingo, 31 de julho de 2011
quarta-feira, 27 de julho de 2011
A Swedish Love Story
1970 marcou a estreia do realizador sueco Roy Andersson nas longas-metragens, com A Swedish Love Story. Desde então até ao presente Andersson realizou apenas mais 3 filmes, aproximando-se gradualmente de uma espécie de narrativa burlesca, dizem alguns algo felliniana.
No entanto o seu filme de estreia está longe desse registo, pelo menos num primeiro olhar, ou à superfície. Trata sobretudo de uma história de amor entre dois adolescentes que se vêem rodeados de toda uma descrença no que a relações afectuosas diz respeito. Seja logo no início o avô de um deles queixar-se da solidão e da infelicidade que a certa altura, e invariavelmente, atinge os idosos; seja na depressão profunda que se encontra a mãe da jovem rapariga motivada por um casamento falhado; seja até pela sua irmã mais velha, já adulta, que se queixa da solidão e da vida. São portanto três gerações diferentes que, inconscientemente, poucas perspectivas trazem ao jovem casal. Todos eles parecem fazer crer que crescer é uma causa da infelicidade, ou esta a consequência. Isto tudo sob uma frieza característica no tipo de relações nórdicas, se quisermos envoltas numa espécie de incomunicabilidade. É precisamente desta forma que a relação do jovem casal floresce, praticamente sem palavras. Um encosto apenas é o suficiente para qualquer um deles expressar o que sente, naquela Suécia aparentemente apática e condenada.
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Paris, Texas
He thought if she never got jealous of him that she didn't really care about him. Jealousy was a sign of her love for him, and then one night, one night she told him that she was pregnant, she was about three or four months pregnant and he didn't even know and then suddenly everything changed, he stopped drinking, he got a steady job, he was convinced that she loved him now that she was carrying his child and he was going to dedicate himself to making a home for her. But a funny thing started to happen, he didn't even notice it at first, she started to change. From the day the baby was born, she began to get irritated with everything around her. She got mad at everything. Even the baby seemed to be an injustice to her. He kept trying to make everything all right for her. Buy her things. Take her out to dinner once a week. But nothing seemed to satisfy her. For two years he struggled to pull them back together like they were when they first met, but finally he knew that it was never going to work out. So he hit the bottle again. But this time it got... mean. This time, when he came home late at night, drunk, she wasn't worried about him, or jealous, she was just enraged. She accused him of holding her captive by making her have a baby. She told him that she dreamed about escaping. That was all she dreamed about: escape. She saw herself at night running naked down a highway, running across fields, running down riverbeds, always running. And always, just when she was about to get away, he'd be there. He would stop her somehow. He would just appear and stop her. And when she told him these dreams, he believed them. He knew she had to be stopped or she'd leave him forever. So he tied a cow bell to her ankle so he could hear her at night if she tried to get out of bed. But she learned how to muffle the bell by stuffing a sock into it, and inching her way out of the bed and into the night. He caught her one night when the sock fell out and he heard her trying to run to the highway. He caught her and dragged her back to the trailer, and tied her to the stove with his belt. He just left her there and went back to bed and lay there listening to her scream. And he listened to his son scream, and he was surprised at himself because he didn't feel anything anymore. All he wanted to do was... sleep. And for the first time, he wished he were far away. Lost in a deep, vast country where nobody knew him. Somewhere without language, or streets. He dreamed about this place without knowing its name. And when he woke up, he was on fire. There were blue flames burning the sheets of his bed. He ran through the flames toward the only two people he loved... but they were gone. His arms were burning, and he threw himself outside and rolled on the wet ground. Then he ran. He never looked back at the fire. He just ran. He ran until the sun came up and he couldn't run any further. And when the sun went down, he ran again. For five days he ran like this until every sign of man had disappeared.
terça-feira, 12 de julho de 2011
Night and the City
As cenas finais de Night and the City de Jules Dassin são particularmente interessantes tendo em conta o comportamento do protagonista ao longo do filme. Ascensão e queda de um small time crook, sem no entanto ter havido efectivamente qualquer tipo de ascensão, ou até de queda, diga-se. É o próprio que o confirma nas derradeiras cenas. Esteve tão perto de tudo, mas por pequenos detalhes deitou tudo a perder. Frases a mais, e demais, talvez. Pequenos erros quando tudo parecia correr bem. Uma vez mais Dassin opta pela rendição moral dos seus protagonistas. Não é que se arrependam das suas acções, mas em estado de desespero estas personagens sentem necessidade de qualquer tipo de libertação espiritual, algo que absolva todas as suas más decisões antes da ruptura. O final, esse, é mais uma brutalidade de eventos a que Dassin já nos habituou. Há atitudes que têm de ser tomadas independentemente das consequências. As consequências, essas, já se conhecem, mas as acções que as antecedem são o que dão particular gozo. Kind of the stuff that dreams are made of.
sábado, 9 de julho de 2011
Guerra Civil
A primeira longa-metragem de Pedro Caldas parece gerar já uma espécie de culto dadas as complicações nas licenças da banda sonora que prolongam há quase dois anos a sua estreia comercial. Depois da sua estreia nacional no Indie Lisboa de 2010 e consequente prémio de melhor longa-metragem portuguesa, Guerra Civil teve há poucos dias a sua segunda aparição em salas portuguesas, desta feita na Cinemateca Portuguesa, provavelmente com uma das maiores enchentes dos últimos anos.
É uma pena o filme não ter chegado ainda às salas (irá algum dia chegar?), já que é das coisas mais interessantes dos anos 2000.
A incomunicabilidade como ponto de partida e a solidão como consequência têm sido temas recorrentes num ou outro filme mais recente mas Pedro Caldas situa-nos numa época particular, o Verão de 1982. Guerra Civil no Líbano. Metáfora evidente para a família neste filme. O filho praticamente autista refugia-se na música e a mãe vê-se cada vez mais desamparada num estado social em que o marido, omnipresente, manifesta-se apenas via telefone até perto do fim do filme. Omnipresência essa fundamental para o agravar de um fosso entre os laços familiares e a descoberta de um novo consolo. Quer para a mãe, quer para o filho. Alternativas a meio caminho que a incomunicabilidade nos oferece antes das consequências. Disorder, lembra-nos Pedro Caldas. Uma época em que a comunicação ainda passava pelo contacto físico, não estando condenada aos telemóveis e à internet. As alternativas eram portanto físicas, irreversíveis. As consequências idem. Os desgostos amorosos eram reais. Nunca foram aliás tão reais. I've got the spirit, but lose the feeling.
Seja em estreia comercial sejam em sessões marginais e clandestinas, Guerra Civil deve ser visto quantas vezes forem necessárias para se alimentar uma certa dose de realidade que se tende a perder.
sexta-feira, 1 de julho de 2011
Sobre os mavericks
A carreira de Dennis Hopper enquanto realizador sempre foi algo obscura após o sucesso de Easy Rider, no entanto há um filme que deve ser destacado que surge na viragem para os anos 80 e consequente queda dos mavericks, de seu nome Out of the Blue. Neste filme Hopper aprofunda os laços que se vão quebrando entre família e a revolta que daí advém. O porquê das coisas com o tempo se alterarem, contra a nossa vontade. O ódio inconsciente que cresce numa série de relações, mesmo nós não querendo que tal aconteça. Face à frieza do meio (o meio pesado de Hopper), a desilusão e a mágoa são inevitáveis. Este é um filme especial. Os problemas são reais, assim como as personagens. São pessoas reais. E Dennis Hopper sempre foi verdadeiro. Neste filme as homenagens aos seus heróis são várias, principalmente a Neil Young e Elvis. Pois também o próprio Hopper foi um ícone. O maverick que abanou Hollywood.
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