domingo, 29 de maio de 2011

Winter Lady



Traveling lady, stay awhile
until the night is over.
I'm just a station on your way,
I know I'm not your lover.

Well I lived with a child of snow
when I was a soldier,
and I fought every man for her
until the nights grew colder.

She used to wear her hair like you
except when she was sleeping,
and then she'd weave it on a loom
of smoke and gold and breathing.

And why are you so quiet now
standing there in the doorway?
You chose your journey long before
you came upon this highway.

Traveling lady stay awhile
until the night is over.
I'm just a station on your way,
I know I'm not your lover.

A child of snow

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Há sempre uma magia especial quando se revê McCabe and Mrs. Miller. De entre os grandes filmes de Robert Altman, este está muito perto de ser a sua magnum opus. É certo que quando se fala de Robert Altman é sempre muito complicado falar dos melhores filmes, ou do opus entre os melhores, já que é possível que seja dos poucos americanos que se possa gabar de ter 8-10 obras-primas em 30 e poucos filmes. Ainda assim este seu Western (ou anti-Western, como o apelidou) é de uma frieza cortante e, ao mesmo tempo, uma dedicatória terna sobre o que será o amor, a perda e o arrependimento. Nas derradeiras cenas finais, ouve-se Leonard Cohen. Traveling lady, stay awhile/ until the night is over/ I'm just a station on your way/ I know I'm not your lover. Parcialidades à parte, haverá final mais belo na história do cinema?

domingo, 22 de maio de 2011

Greetings

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Um filme curioso de Brian De Palma, que tem como sequela o não menos peculiar Hi, Mom!, onde Robert De Niro reencarna na mesma personagem.
À semelhança de tantos outros filmes do final dos anos 60 (e até princípios de 70), este Greetings define o estado de paranóia e alerta da sociedade norte-americana no pós-assassinato de JFK e durante a Guerra do Vietname. Depois de uma breve homenagem a Antonioni (e ao seu Blow-Up), De Palma mergulha no espírito de uma sociedade de controlo e através do bizarro começa a aprofundar já aqui o voyeurismo como uma das grandes temáticas da sua obra.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Dos que são bons

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O novo filme dos irmãos Safdie, John's Gone, teve uma passagem discreta pelo Indie Lisboa deste ano. Foi exibido duas vezes mas ambas na sala mais pequena das associadas ao festival, o Teatro de Bairro. Não sei se decisão da direcção do festival foi propositada ou não. Não faria mais sentido a exibição da curta-metragem numa sala maior? Afinal de contas os Safdie foram os vencedores do grande prémio da edição anterior do festival. Os dois irmãos são "O" cinema emergente de Nova Iorque (basta ver um qualquer trabalho seu para perceber porquê) e mereciam melhor tratamento neste certame.

Sobre a curta-metragem em si, é a continuidade do trabalho até agora desenvolvido pelos realizadores. Estórias praticamente circulares, pequenos fragmentos de vida e de realidade sem quaisquer pretensiosismos e manobras manipulativas de "somos bué jovens e fazemos coisas bué cool", como lamentavelmente se viram tantos exemplos este ano no festival. Venha a próxima longa-metragem dos dois irmãos.

segunda-feira, 16 de maio de 2011

O Atalho

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É recorrente na curta (mas rica) filmografia de Kelly Reichardt as personagens andarem em viagem. Seja pelo país fora numa América contemporânea, seja em retiro espiritual ou, no caso deste Meek's Cutoff (O Atalho, em português), numa viagem nómada pelo deserto em pleno final do séc. XIX.
O que ainda é mais curioso nesta filmografia é o facto das estórias pouco ou nada terem em comum entre si mas ainda assim existe um fio condutor que pauta a sua obra, como se fosse possível interligar todos os seus filmes (uma espécie de Cronenberg).
A grande premissa de Reichardt é a desorientação dos seres humanos inseridos em determinado meio. Desorientação seja ela literal ou figurativa, que atinge neste Meek's Cutoff o seu ponto mais alto, já que se estende sobre as duas formas. As pessoas que fazem esta travessia e o seu guia estão perdidos em pleno deserto e os dias vão passando. A comida e a água escasseiam, assim como as forças. Por outro lado, ganha contornos a desorientação do grupo como um conjunto de pessoas motivadas por um objectivo. Cada um dos personagens no seu interior sente-se ameaçado pelo que quer que seja que está para vir. A confiança do grupo sobre o guia (o "líder") diminui em prol de um índio encontrado no deserto, feito prisioneiro por estes, alegadamente perigoso. O próprio guia já não sabe o que fazer, deixando essa responsabilidade, quase como um capricho, aos restantes, levados a "acreditar" (instintamente, já que este não fala a sua linguagem) naquele "inimigo" que fizeram prisioneiro.
Kelly Reichardt tem sido, portanto, fiel à sua principal premissa e quanto à forma para chegar a ela mantém também o registo de poucos diálogos e um ritmo bastante compassado, que tem feito sempre tão bem.
Muitos sem saber no que pegar colocarão em causa aquele final, fazendo um qualquer trocadilho barato com "atalho", resumindo a escolha da realizadora. Pergunto se haveria melhor forma de terminar este filme. Para esses, deixem-se de merdas. Forte candidato ao filme do ano.

sábado, 14 de maio de 2011

Non Educated DelinquentS

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Outras das surpresas da edição deste ano do Indie Lisboa é Neds, de Peter Mullan.
Tem sido recorrente num passado muito recente aprofundar-se o tema da violência nos bairros do Reino Unido. Há 2 anos estreou This is England e no ano passado Fish Tank. Este ano a acção chega-nos de Glasgow, onde uma vez mais a narrativa centra-se num jovem problemático. Portanto: jovem aparentemente normal que torna-se problemático e violento devido ao meio onde está inserido. A storyline não nos leva propriamente a novos lugares, até porque deste género há muitos (um ou outro bom e outros muito maus), ainda para mais dados os bons exemplos já referidos dos últimos anos. Voltamos às Doc Martens e aos Classic Harringtons. Ainda assim, Peter Mullan consegue focar outros aspectos que os seus precedentes não o fizeram. Mullan diz-nos que o problema destes jovens é o meio onde vivem e que talvez anormal seja não fazerem parte dos gangs, dados os vários factores que condicionam cada um, ou reprimem. As lutas entre os gangs nestas ruas acontecem todos os dias quase como um ritual, um hábito, porque não se faz mais nada nas ruas. Os rapazes querem pertencer aos gangs. No primeiro confronto de gangs com o protagonista já pertencendo ao grupo ouve-se como música de fundo um clássico: heaven, I'm in heaven, and my heart beats so that I can hardly speak, and I seem to find the happiness I seek. As perspectivas dos jovens que crescem nestes bairros são baixas mas Mullan mostra-nos que para além do meio em si e do grupo social família, a escola tem um papel preponderante na (des)inserção social dos alunos, quase forçada inconscientemente, dado o seu conservadorismo e práticas violentas sobre os mesmos. As perspectivas já são baixas num meio que por si impõe-se aos mais frágeis emocionalmente, aos que já encaram os problemas sociais desde cedo como algo normal.
Já não se filmava a rebelia juvenil desta maneira há muitos anos, e aquele plano final e a sua mensagem implícita é das coisas mais interessantes vistas este ano em cinema.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Curling

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O filme mais interessante que até à data passou no Indie Lisboa é o do canadiano Denis Côté. Um pai teme o contacto da sua filha com o mundo exterior e nunca a deixou ir à escola (não, não é a mesma coisa que o pobre e chato Canino, do grego Lanthimos). Se este isolamento assume contornos literais no que à filha diz respeito, já que nunca pode sair de casa (nem está com ninguém) a não ser quando passeia sozinha pela neve nas redondezas da casa, o próprio pai, e apesar de ter relações parcialmente amigáveis (embora apáticas) com os colegas de trabalho, vive fechado sobre si. O pai não quer que a filha seja corrompida pelas coisas más e podres do exterior. Falemos de casos extremos, como o sangue ou a morte. Um, experiente, não quer exposição. Outro, ingénuo, quer conhecer o que está para lá da casa. Ambos, sozinhos e por diferentes motivações, entram em contacto com o mal. Com a morte. As consequências sobre cada um são também elas diferentes.
O estado de tristeza e de tédio do protagonista agudiza-se. É incontornável não nos lembrarmos do Travis de Paris, Texas. A única solução aparentemente possível é a partida. Vou-me embora. Tenho um problema de adulto. Não me sinto bem da cabeça, diz à filha. E parte sozinho.

A certa altura do filme uns conhecidos seus jogam Curling e alguém explica-lhe as regras. O objectivo da primeira pessoa que joga é atirar as pedras de forma a que fiquem à volta do centro do alvo, de forma a que o jogador seguinte não consiga chegar ao centro. A parte central, mais importante do jogo. Tão importante e impenetrável para o pai, que foi o primeiro a jogar e a espalhar à volta os obstáculos. No fim o possível arrependimento e a redenção. A tentativa de mudança (inclusive física) para que lentamente e pacientemente se consigam desviar as pedras à volta do centro.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Carlos

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Já se falou (e bem) sobre o filme. Subscrevo, mas apesar de tudo importa colocar a pergunta: haverá filme mais cool sobre o terrorismo?

terça-feira, 3 de maio de 2011

Éric

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Apesar de vários erros de raccord algo chatos e interpretações duvidosas, este La Carrière de Suzanne é impressionante. Aliás todos os Seis Contos Morais de Éric Rohmer o são, cada um à sua maneira. Em comum têm como fio condutor as relações humanas "contemporâneas", precedendo Woody Allen nesse tipo de abordagem.
Neste segundo conto, perto do final, o protagonista crê ter sido "traído" por uma rapariga e não pelo seu melhor amigo, apesar de tudo indicar o contrário. "Traído" devido a um roubo de dinheiro, e não no sentido sentimental (ou físico, já que o termo "traição" nestes seis contos de Rohmer pode passar por vários estados). Depois do ódio inicial após tê-la conhecido passando pela fixação por ela semanas depois, ele agora tudo faz para que ela lhe seja indiferente. Tenta ele manipular o seu cérebro de forma a pôr um ponto final naquela relação (infantil, como alguém diz). Este acabou por ter o que queria mas de imediato se apercebe de uma Suzanne que nunca viu, ou que nunca quis vêr, e, claro está, já é tarde demais. Rohmer faz quase sempre questão de deixar os seus protagonistas caírem em tragédia sentimental, questionando-os sobre aquilo que poderiam ter tido e o que não souberam gerir, à falta de melhor termo. O que é bom nesse julgamento pessoal é todo o processo mental de cada protagonista (de cada filme) que o antecede, funcionando em certas alturas, de forma perspicaz, quase como um espelho aos olhos do espectador. O espectador quer julgar estes personagens mas ao mesmo tempo é provocado por estes actos imorais. Cruelmente. Sem comédia por cima a fazer de disfarce.

Noah



It's the first day of spring
And my life is starting over again
The trees grow, the river flows
And its water will wash away my sins
For I do believe that everyone has one chance
To fuck up their lives
But like a cut down tree, I will rise again
And I'll be bigger and stronger than ever before

segunda-feira, 2 de maio de 2011

After Life

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Este filme de Hirokazu Koreeda, de 1998, é sobre uma equipa que trabalha numa espécie de purgatório onde os recém-chegados (recém-falecidos?) são entrevistados e, antes de partirem para o infinito, têm direito a escolherem uma e apenas uma memória das suas vidas, sendo que todas as outras serão apagadas. Feita a escolha, a equipa empenha-se então em reproduzir fisicamente esse momento e registam a memória em vídeo. No final da semana todo o grupo de "almas pendentes" vê os filmes e cada um deles leva a sua cassete com essa única memória, para o resto da sua existência.

No meio disto tudo, pergunto-me quantos destes o Michel Gondry e o Charlie Kaufman andaram a ver para terem ideias para os seus filmes "originais" e "super cool".