Neste terceiro filme de Cassavetes, que nem era "seu" já que entrou como substituto de um primeiro realizador, as incompatibilidades com o produtor na edição ditaram a renúncia ao filme por parte do realizador. Aparentemente Cassavetes, vindo de dois projectos seus anteriores com um tipo de escola diferente (não tanto por Too Late Blues mas mais por Shadows), não se revia na abordagem que o produtor Stanley Kramer queria pautar neste A Child is Waiting. Para Cassavetes a mensagem que a edição final passa é a de que as crianças mentalmente debilitadas estão à parte e sós, e então devem permanecer juntas integrando-se entre si numa instituição própria. Por outro lado, a sua versão centrar-se-ia mais no facto de que o problema destas crianças não é exactamente delas mas sim da forma como são vistas pelos adultos.
"I didn't think his film - and that's what I consider it to be, his film - was so bad, just a lot more sentimental than mine."
À parte estas questões, há uma cena perto do fim em que a personagem de Burt Lancaster questiona os métodos de Judy Garland. Por um lado ele acredita que este tipo de crianças estão sujeitas a todo o tipo de regras, como qualquer ser humano. Diz a personagem a certa altura, a propósito de uma criança em particular, que "é provável que ele [a criança] nunca consiga ser feliz aqui, mas prefiro fracassar lutando pela dignidade dele do que vê-lo alhear-se do resto das crianças e do mundo e refugiar-se nos seus afectos". Os "seus", de Judy Garland, que desde que chegou à instituição tem ajudado o rapaz em questão, que nunca convive com as outras crianças. A lógica não será tanto a da luta por uma dignidade mas a da construção de uma, através dos afectos. Não será assim? O que ainda restou de filme comprovou-o. Por isso também Cassavetes teve a dignidade de não dizimar o filme por completo já que este, vendo bem as coisas, até é bastante competente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário