sábado, 30 de abril de 2011

Ballad of Easy Rider

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É curioso observar Wim Wenders num filme de género, ou subgénero, como neste noir (ou neo-noir) O Amigo Americano. Mais curioso será dizer que facilmente se perceberia de quem seria este filme se não se soubesse o nome do realizador.
É recorrente num ou outro filme de Wenders a frase não se deve ter medo de nada senão do próprio medo, ou uma ligeira variação. No caso do realizador pode-se dizer que o medo que deve ser temido será o da criação desprovida de qualquer emoção, paixão, no fundo descartável, que torne os seus filmes comuns e "realizáveis" por qualquer um.
Mais um belo filme de Wenders com direito a participações especiais em homenagem à sua escola: Nicholas Ray, Samuel Fuller e Jean Eustache.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

The Magnificent Andersons*

























Os novos projectos dos dois realizadores americanos mais interessantes da actualidade parecem ser já oficiais. Por um lado Paul Thomas Anderson vai avançar com a adaptação do livro Inherent Vice, de Thomas Pynchon. Apesar de se ter noticiado que este iria avançar com The Master, filme sobre a Cientologia, tudo indica que é mesmo à adaptação literária que o realizador irá dar prioridade.

Quanto a Wes Anderson, o elenco para o seu próximo filme, Moonrise Kingdom, começa a ficar cada vez maior. Para além dos seus já habituais Bill Murray e Jason Schwartzman, juntam-se ainda as nada estranhas a estes universos Frances McDormand e Tilda Swinton, caindo a curiosidade sobre Bruce Willis e Edward Norton. Dois nomes que não se esperariam num filme do realizador. Mas também há uns anos atrás provavelmente não se esperariam Gene Hackman, Seymour Cassel, Willem Dafoe, ou até mesmo Adrien Brody.

*Perdoem-me o trocadilho barato com o segundo filme do Orson Welles. Até se poderia ir por "The Royal Andersons", puxando mais para o lado do Wes. Afinal, semelhanças entre os dois filmes até existem mais do que aquelas que se esperariam.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Seconds ending

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Ainda sobre Seconds, e após o médico proferir as suas últimas palavras dirigas ao protagonista, you were my best creation, importa tentar perceber aquele último plano. Um homem passeia pela praia com uma criança às cavalitas.
Normalmente diz-se que no leito de morte as coisas mais importantes que se passaram na nossa vida surge-nos na mente como uma cadeia de flashbacks. Mas e no caso de se ter tido uma vida bastante vazia, como o protagonista em questão? Afinal de contas foi por isso que ele concordou em ter uma segunda oportunidade. Em viver outra vez, outra vida. Mas uma vez mais falhou. Terá sido este último plano um desses típicos flashbacks, mas desta feita materializado sob a forma das memórias que nunca tivemos e que gostaríamos de ter?

terça-feira, 26 de abril de 2011

Estrada para lugar nenhum

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Um exemplo daqueles, à semelhança de tantos outros, em que com o passar dos anos (talvez mais para o final da década), torna-se um filme de culto.

Da vida das marionetas

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No filme de Bergman, durante terapia, fala-se sobre a força das palavras não só de forma geral como também especificamente sobre os desejos mais íntimos de cada um. Se não expressar a minha ansiedade por palavras, ela permanece irreal. Uma vez ditas as palavras, ela torna-se manifesta.

Estabeleça-se então um raccord com o comentário anterior sobre Alice in the Cities. De salientar que esta ordem é a correcta, já que o filme de Wenders, curiosamente, antecede o de Bergman.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Novelty


When people listen to you don't you know it means a lot,
'Cos you've got to work so hard for everything you've got.
Can't rest on your laurels now,
Not when you've got none.
You'll find yourself in a gutter,
Right back where you came from.

Someone told me being in the know is the main thing.
We all need the security that belonging brings.
Can't stand on your own in these times,
Against all the odds,
You all just fall behind like all the other sods.

You slap our backs and pretend you knew about,
All the things that we were gonna do.
What ya gonna do, what ya gonna do,
When it's over?
You're on your own now,
Don't you think that's a shame?
But you're the only one responsible to take the blame.
So what ya gonna do when the novelty has gone?
Yeah, what ya gonna do when the novelty has gone?

You slap our backs,
And pretend you knew about,
All the things we were gonna do.
What ya gonna do, what ya gonna do
When its over?

sábado, 23 de abril de 2011

Träume

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Ao longo de Alice in the Cities é frequente o protagonista tirar fotografias de coisas talvez insignificantes dos locais por onde passa. Apesar da insistência, diz ele que por mais que se tente as fotografias nunca mostram exactamente aquilo que os olhos vêem e, consequentemente, a realidade. Talvez por essa sua insistência, a da busca pelo real, a certa altura a pequena Alice tira-lhe uma fotografia, para pelo menos ele saber que existe. Existência essa curiosamente interligada com o jogo da forca que ambos jogam no avião. Alice perde porque não adivinha a palavra "sonho". Só valem palavras que existam. Não serão os sonhos tão ou mais reais do que reproduções de momentos que não existiram?

Sobre a dignidade e afins



















Neste terceiro filme de Cassavetes, que nem era "seu" já que entrou como substituto de um primeiro realizador, as incompatibilidades com o produtor na edição ditaram a renúncia ao filme por parte do realizador. Aparentemente Cassavetes, vindo de dois projectos seus anteriores com um tipo de escola diferente (não tanto por Too Late Blues mas mais por Shadows), não se revia na abordagem que o produtor Stanley Kramer queria pautar neste A Child is Waiting. Para Cassavetes a mensagem que a edição final passa é a de que as crianças mentalmente debilitadas estão à parte e sós, e então devem permanecer juntas integrando-se entre si numa instituição própria. Por outro lado, a sua versão centrar-se-ia mais no facto de que o problema destas crianças não é exactamente delas mas sim da forma como são vistas pelos adultos.

"I didn't think his film - and that's what I consider it to be, his film - was so bad, just a lot more sentimental than mine."

À parte estas questões, há uma cena perto do fim em que a personagem de Burt Lancaster questiona os métodos de Judy Garland. Por um lado ele acredita que este tipo de crianças estão sujeitas a todo o tipo de regras, como qualquer ser humano. Diz a personagem a certa altura, a propósito de uma criança em particular, que "é provável que ele [a criança] nunca consiga ser feliz aqui, mas prefiro fracassar lutando pela dignidade dele do que vê-lo alhear-se do resto das crianças e do mundo e refugiar-se nos seus afectos". Os "seus", de Judy Garland, que desde que chegou à instituição tem ajudado o rapaz em questão, que nunca convive com as outras crianças. A lógica não será tanto a da luta por uma dignidade mas a da construção de uma, através dos afectos. Não será assim? O que ainda restou de filme comprovou-o. Por isso também Cassavetes teve a dignidade de não dizimar o filme por completo já que este, vendo bem as coisas, até é bastante competente.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Seconds

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Um dos filmes mais subvalorizados dos anos 60, a par de Shock Corridor e The Naked Kiss. Mas a essas andanças já o pobre Fuller estava habituado.

Para além de todo aquele movimento de câmara e efeitos sonoros perturbadores - aliás o registo do filme é apresentado logo nos primeiros 2 minutos dos créditos iniciais e na consequente primeira cena -, o que é bom em Seconds é a sensação familiar de (in)sanidade de todos aqueles personagens, como se a vontade de morrer (ou imposição?) e renascer sob uma outra vida fosse como que um fim necessário ao ser humano de forma a corrigir o seu anterior percurso. E quando nessa segunda oportunidade também se falha?

É curioso hoje observar tantos exemplos de ditos artistas a tentarem beliscar o universo criado aqui por John Frankenheimer. Não necessariamente tanto pelo conteúdo mas pela forma. E falham, claro.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Kauas pilvet karkaavat


O novo filme de Aki Kaurismäki, Le Havre, tem estreia mundial agendada para o Festival de Cannes que se avizinha. É o segundo filme de toda a filmografia do realizador que é falado em francês, depois de La Vie de Bohème. Aqui fica um excerto dos seus vários momentos musicais, de Drifting Clouds.

1 down, 2 to go



Consta que anda já em fase de pós-produção a adaptação ao cinema de On the Road, de Kerouac. Apesar da forte equipa por detrás do brasileiro Walter Salles, nomeadamente F. F. Coppola e Gus Van Sant, tenho as minhas dúvidas de que aquele imaginário tão peculiar do livro resulte no ecrã. Na melhor das hipóteses chega-se a um Two-Lane Blacktop, mas com jazz e tequilla.

Que não deitem as mãos aos outros 2 livros desta tríade perfeita. Tentativas já as houve, mas os direitos continuam impenetráveis.

Whatever it is

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Assinale-se este regresso pegando n'O filme que passou ontem na Cinemateca, The Last Picture Show.

Da ficha do filme:

"Uma das chaves de The Last Picture Show é o momento em que a mãe de Jacy diz ao protagonista que ela era a jovem que, há anos atrás, se banhava nua no lago em companhia de Sam: "I guess if it wasn't for Sam I'd just about missed it, whatever it is". E este seja lá o que for já foi entrevisto e vivido pelo jovem protagonista, embora ele também não saiba o que é. Talvez nunca venha a saber "o que é", mas sabe que é, seja lá o que for e que punge."